O pai, Seu Domingues,
agora, após falecido, conhecido como Seu Cássio Domingues, morreu
de forma incompreensível, simplesmente, parou de respirar e foi se
encontrar mais cedo com outros familiares, história parecida, muitos
entes haviam partido de forma parecida. Sem uma idade determinada,
sem diagnóstico. Nenhum médico descobriu.
Seu Domingues, não
sabia o muito o que fazer, mal tinha se formado na faculdade, com
ressalvas e recuperações, diriam alguns até que com subornos e
favores (algumas professoras também sonharam ser a prometida); o Seu
Cássio foi ter com os seus, o que faria um Magnata das nozes, em
plenos 25 anos, numa cidade que vivia de nozes, cidade que
desprezava?
Gastou dinheiro
montando negócios mirabolantes na cidade, mas não tinha paixão por
nenhuma, foi da galeria de arte, até uma boate. Não haviam artistas
na cidade, a boate poderia até ter sido bem sucedida, mas apenas ele
podia arcar com os preços das caras bebidas que encomendou. A
primeira festa, foi a da falência da boate, ele acabou não cobrando
entradas, e distribuindo bebidas. A cada fracasso, repassava a
escritura para quem se interessasse, deixando as vezes o que tivesse
no caixa.
Seus funcionários
acabavam sendo relocados nas suas empreitadas, pessoas sem muita
instrução, mas trabalhadoras, acabavam virando caixas de
mercadinhos, ajudantes no estaleiro que construiu, e por revolta com
o fracasso, e a simpatia com o funcionário, transformava-os em
donos, não sem antes demiti-los, se pedissem, sem justa causa,
pagando indenizações absurdas.
Notou que algo estava
errado, quando foi comprar bebida no seu antigo mercadinho, o cartão
não foi aceito. Se sentiu constrangido, nunca imaginou tal coisa. O
dono, Cicero, um negro, já com seus 70 anos, havia vivido a vida
toda na empresa e nas plantações dos Domingues, ajudou a cuidar do
Seu Domingues, agora com 35 anos, ralhando com ele as vezes, foi o
primeiro funcionário a se aventurar nas empreitadas do Chefe, passou
por vários empreendimentos, pela Boate Domingues, pelo Porto
Domingues, pela Tecelagem Domingues, até parar na Mercearia
Domingues, onde pediu com carinho, para tomar conta. E recebeu a
Escritura, com lágrimas nos olhos. Nunca mudou o nome nesses 7 anos
de funcionamento. Notou a situação, Seu Domingues mesmo, o havia
ensinado a usar a máquina de cartões. Ofereceu a bebida ao antigo
chefe, como um carinho, um presente. Presente recusado,
veementemente, com a argumentação, que de presentes se vai a
falência. Recebeu um grande abraço do velho amigo, que comentou
algo sobre a dieta.
Seu Domingues,
desolado, foi no banco, Domingues claro, conversar com seu gerente,
antigo contador da família, perguntou o que havia acontecido com a
conta. Descobriu que a meses havia atingido o vermelho, e que não
recebia mais pagamentos. Mas como era o Seu Domingues, o gerente,
conhecido como Celsinho, abriu concessões, mandou cartas,
disponibilizou limites astronômicos. Porém, o banco havia sido
comprado por uma grande corporação, e ele não pôde mais controlar
a conta VIP do Seu Domingues. Celsinho se ofereceu para retomar o
velho cargo, e ajudar Seu Domingues a encontrar as falhas nos livros
caixas, e o motivo dos não recebimentos, ouviu uma risada, recebeu
um abraço. E viu Seu Domingues, sair pela porta, assoviando alguma
canção alegre.
Seu Domingues,
resolveu visitar as plantações, descobriu que havia empregado toda
sua empresa em outros estabelecimentos, havia feito a cidade surgir
do pó, e levou sua empresa ao pó. Riu, pois nunca amou tanto aquela
cidade, cidade cheia de grandes amigos. Colheu uma noz, com
dificuldade, tentando lembrar de como o avô ensinou uma vez, só que
a lembrança, e o descaço, atrapalharam, ele odiava aquela
plantação, plantação que ele negligenciou, e que por anos o
sustentou. Descascou, toscamente, com uma ferramenta abandonada. E
comeu. Eram boas, não lembrava do gosto, ao lembrar do gosto,
lembrou de uma ida ao hospital, na infância. Mesmo dia que o avô o
ensinou a descascar. Voltou a sentir a falta de ar da infância, se
sentou, recostou na árvore, tentou gritar, chorou, e começou a rir.
Os magnatas eram alérgicos a nozes, quem diria?
Cicero o encontrou,sem
vida com um sorriso no rosto, e o enterrou ao pé da mesma árvore.
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